Esta
obra nos reporta à labareda e ao fulgor imenso de um eu perdido na história,
mas imperioso dentro de nossas raízes. O título desse romance não poderia ser
mais apropriado, pois nos leva a refletir sobre o que somos e de onde viemos. O
prazer desta leitura me fez voltar no tempo e (re)viver sensações
indescritíveis, já que residimos em uma constante intermitência entre o
inteligível e o que nos é concreto. Na continuidade, sucumbi aos efeitos
semióticos que regozijaram minha alma e me fizeram travar em vaivens de êxtase,
de emoções e de sensatez. Talvez precise ser um pouco mais clara. Vamos ao “acaso”.
Com
a narrativa, estive com Juan poucas vezes, e estas, por suas vezes, foram num
completo emaranhado sucessivo de perdas e buscas, e com elas, uma mistura de
desejos, confusões e afirmações. Juan, pai de João - narrador de Confissões
descontínuas de uma mente confusa, cigano marroquino que aqui se apresenta de “olhos
à irracionalidade do outro”, se mostrou em meus sonhos e, somente lendo este
texto, tomei pé de sua face que me transportou para alhures de minha matéria e
das minhas convicções. A leitura me levou ao descompasso, o fôlego roubou os
olhos e me voltou para uma viagem que passou por Marrocos, Espanha, Portugal;
fiz junto com ele digressões, transgressões, até o limiar de tal intimidade que
se fundiu numa “intermitente inquietação gostosamente confusa” e estagnou-se
até a última letra da derradeira página.
E lá
eu estava, embaraçada mais uma vez, imaginando se a descontínua mente seria a
minha, a de João Paulo, ou a de Fábio Rodrigo Penna, autor deste livro. Tenho
certeza de que o leitor terá percepções com as quais travará um diálogo instigante
entre as cores que tangem a história de Juan (João) e as muitas que permeiam as
nossas.
Penna
deu substância e revestiu o texto com um sentimento que trouxe à luz sua alma
de nascente escritor. Sua linguagem envolve uma roupagem com a qual interagimos
num triângulo entre leitor, texto e autor. Neste contexto, percebemos o quão
podemos assumir identidades diferentes, não unificadas, em momentos
indeterminados, os quais envolvem um “norte” coerente e cheio de
plurissignificados.
Dentro
de nós há identidades contraditórias e este livro é um convite à reflexão sobre
o que somos, fomos e o que poderíamos ser. É aqui que percebemos que o nosso
mundo é inundado pelas palavras que dão vida ao universo das sensações,
momentos estes que são eternos.
Quebrar
paradigmas e distâncias é possível quando lemos João, Juan, e por que não Fábio
R. Penna? Ainda que não possamos ler as ações simples do autor, há a
possibilidade de conhecê-lo na excentricidade do personagem, pois todos nós
temos e deixamos marcas, nossos selos d’água, e são eles que nos fazem ser
autênticos.
O
convite é impreciso, todavia desconhecido leitor, tuas leituras nos aproximarão
em abusivas ressignificações bastante próximas: não só a minha, mas a de muitas
mentes confusas.
Boa
viagem!
Simone
Cristina Menezes Martins dos Santos
Professora
da Universidade do Estado do Pará
(UEPA)
Nenhum comentário:
Postar um comentário