domingo, 26 de julho de 2015

PREFÁCIO

Esta obra nos reporta à labareda e ao fulgor imenso de um eu perdido na história, mas imperioso dentro de nossas raízes. O título desse romance não poderia ser mais apropriado, pois nos leva a refletir sobre o que somos e de onde viemos. O prazer desta leitura me fez voltar no tempo e (re)viver sensações indescritíveis, já que residimos em uma constante intermitência entre o inteligível e o que nos é concreto. Na continuidade, sucumbi aos efeitos semióticos que regozijaram minha alma e me fizeram travar em vaivens de êxtase, de emoções e de sensatez. Talvez precise ser um pouco mais clara. Vamos ao “acaso”.

Com a narrativa, estive com Juan poucas vezes, e estas, por suas vezes, foram num completo emaranhado sucessivo de perdas e buscas, e com elas, uma mistura de desejos, confusões e afirmações. Juan, pai de João - narrador de Confissões descontínuas de uma mente confusa, cigano marroquino que aqui se apresenta de “olhos à irracionalidade do outro”, se mostrou em meus sonhos e, somente lendo este texto, tomei pé de sua face que me transportou para alhures de minha matéria e das minhas convicções. A leitura me levou ao descompasso, o fôlego roubou os olhos e me voltou para uma viagem que passou por Marrocos, Espanha, Portugal; fiz junto com ele digressões, transgressões, até o limiar de tal intimidade que se fundiu numa “intermitente inquietação gostosamente confusa” e estagnou-se até a última letra da derradeira página.

E lá eu estava, embaraçada mais uma vez, imaginando se a descontínua mente seria a minha, a de João Paulo, ou a de Fábio Rodrigo Penna, autor deste livro. Tenho certeza de que o leitor terá percepções com as quais travará um diálogo instigante entre as cores que tangem a história de Juan (João) e as muitas que permeiam as nossas.

Penna deu substância e revestiu o texto com um sentimento que trouxe à luz sua alma de nascente escritor. Sua linguagem envolve uma roupagem com a qual interagimos num triângulo entre leitor, texto e autor. Neste contexto, percebemos o quão podemos assumir identidades diferentes, não unificadas, em momentos indeterminados, os quais envolvem um “norte” coerente e cheio de plurissignificados.

Dentro de nós há identidades contraditórias e este livro é um convite à reflexão sobre o que somos, fomos e o que poderíamos ser. É aqui que percebemos que o nosso mundo é inundado pelas palavras que dão vida ao universo das sensações, momentos estes que são eternos.

Quebrar paradigmas e distâncias é possível quando lemos João, Juan, e por que não Fábio R. Penna? Ainda que não possamos ler as ações simples do autor, há a possibilidade de conhecê-lo na excentricidade do personagem, pois todos nós temos e deixamos marcas, nossos selos d’água, e são eles que nos fazem ser autênticos.

O convite é impreciso, todavia desconhecido leitor, tuas leituras nos aproximarão em abusivas ressignificações bastante próximas: não só a minha, mas a de muitas mentes confusas.
Boa viagem!

Simone Cristina Menezes Martins dos Santos
Professora da Universidade do Estado do Pará

(UEPA)