Resumindo,
Judite conheceu Juan, quando Costa, meu pai, foi a Cádiz. Desde então, não se
separaram. Entretanto, ela jamais poderia segui-lo e ele, a ela. Merda de
questão cultural! Também não sei dizer se Juan voltou a Marrocos ou não.
Enfim...
Minha
mãe disse que nasci no inverno, se não falha a memória. Se não foi em
fevereiro, março... não lembro. Sei que era inverno em Lisieux. Nasci num
frio dia europeu, na velha França.
Pronto,
agora surgi materialmente, como corpo.
Por
meu pai ser chamado de Juan, recebi o nome João, e Costa herdei do meu outro
pai, que me registrou e se dedicou-me. Morei em Salvador baseado nisso tudo com
minha mãe Judite. O nome do homem que me criou era Mathias Antunes Costa,
Mathias com th. Isso mesmo... isso mesmo. A mulher dele, minha mãe, chamava-se
Maria do Socorro Alencar, um nome desgraçado de grande. Não sei o porquê de as
mulheres terem nomes tão grandes... Maria do Socorro Alencar de Almeida Costa,
isto mesmo! Era o nome. Agora, sacanagem é que Judite era só Judite; não tinha
nome no final, era Judite de uma... uma... tribo e só. Era da família tal. Não
tinha essa questão toda de nome.
Meu
pai deveria ter um metro e setenta e três centímetros de altura, barrigudo,
bigode grande emendado à costeleta, olhos pretos. Tinha uma caligrafia
esplêndida. Com ele aprendi o célebre ditado: “quem não rouba nem herda, nunca
sai da merda”.
Assevero-te,
leitor, que meus pais adotivos não foram para o Brasil comigo. Ficaram em
Portugal, pertencendo a terra. Quando vim para o Brasil, minha mãe, aquela que
ficou sendo-a, já havia morrido. Ela era de uma cor branca meio escurecida,
é... Maria era uma portuguesa dos Açores. Era baixa, redonda, bigode, tinha
muito corpo, era gorda, pois tinha de ser, senão não teria valor. Magras eram
as putas. As mulheres de casa eram de tetas grandes, aparentando senhoras. Era escurecida
com um sinal no rosto, próximo à boca. Deveria ser mais ou menos da cor de
quem... da...
Caso
procures, encontrarás muitos povos de Portugal dessa cor, muito, muito mesmo.
Não havia só branco-branco, branco-branco de maneira nenhuma, nem todo mundo
era branco, de pele branca. Não haveria como existir somente branco. Eu não
nasci preto, somente meus cabelos escorridos que poderia amarrá-los e fazer
rabo de cavalo... eram iguais ao do meu pai Mathias e não ao de Juan de
Córdoba. Falo mais daquele do que desse, pois foi apenas uma mera casualidade.
Foi a junção de órgãos sexuais - não sendo vulgar, como dizem - que me fez
surgir. Não o conheci pessoalmente e não sei se no sonho era ele mesmo ou uma
imaginação bem guardada minha no inconsciente dos relatos de Judite. Creio que
não me conheceu, tampouco tomou existência. Se tomou, não importa; meu pai é o
Costa! ... às vezes, falo uma coisa neste momento e daqui a pouco não consigo
recordar mais. Escusa-me... me desviei do percurso do meu propósito, perdi a
linha do raciocínio destinada a este capítulo.
É...
quando puder, retorno.
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