sexta-feira, 7 de setembro de 2012

XI - MINHA FAMÍLIA - MINHA CASA PORTUGUESA



Resumindo, Judite conheceu Juan, quando Costa, meu pai, foi a Cádiz. Desde então, não se separaram. Entretanto, ela jamais poderia segui-lo e ele, a ela. Merda de questão cultural! Também não sei dizer se Juan voltou a Marrocos ou não.
Enfim...
Minha mãe disse que nasci no inverno, se não falha a memória. Se não foi em fevereiro, março... não lembro. Sei que era inverno em Lisieux. Nasci num frio dia europeu, na velha França.
Pronto, agora surgi materialmente, como corpo.
Por meu pai ser chamado de Juan, recebi o nome João, e Costa herdei do meu outro pai, que me registrou e se dedicou-me. Morei em Salvador baseado nisso tudo com minha mãe Judite. O nome do homem que me criou era Mathias Antunes Costa, Mathias com th. Isso mesmo... isso mesmo. A mulher dele, minha mãe, chamava-se Maria do Socorro Alencar, um nome desgraçado de grande. Não sei o porquê de as mulheres terem nomes tão grandes... Maria do Socorro Alencar de Almeida Costa, isto mesmo! Era o nome. Agora, sacanagem é que Judite era só Judite; não tinha nome no final, era Judite de uma... uma... tribo e só. Era da família tal. Não tinha essa questão toda de nome.
Meu pai deveria ter um metro e setenta e três centímetros de altura, barrigudo, bigode grande emendado à costeleta, olhos pretos. Tinha uma caligrafia esplêndida. Com ele aprendi o célebre ditado: “quem não rouba nem herda, nunca sai da merda”.
Assevero-te, leitor, que meus pais adotivos não foram para o Brasil comigo. Ficaram em Portugal, pertencendo a terra. Quando vim para o Brasil, minha mãe, aquela que ficou sendo-a, já havia morrido. Ela era de uma cor branca meio escurecida, é... Maria era uma portuguesa dos Açores. Era baixa, redonda, bigode, tinha muito corpo, era gorda, pois tinha de ser, senão não teria valor. Magras eram as putas. As mulheres de casa eram de tetas grandes, aparentando senhoras. Era escurecida com um sinal no rosto, próximo à boca. Deveria ser mais ou menos da cor de quem... da...
Caso procures, encontrarás muitos povos de Portugal dessa cor, muito, muito mesmo. Não havia só branco-branco, branco-branco de maneira nenhuma, nem todo mundo era branco, de pele branca. Não haveria como existir somente branco. Eu não nasci preto, somente meus cabelos escorridos que poderia amarrá-los e fazer rabo de cavalo... eram iguais ao do meu pai Mathias e não ao de Juan de Córdoba. Falo mais daquele do que desse, pois foi apenas uma mera casualidade. Foi a junção de órgãos sexuais - não sendo vulgar, como dizem - que me fez surgir. Não o conheci pessoalmente e não sei se no sonho era ele mesmo ou uma imaginação bem guardada minha no inconsciente dos relatos de Judite. Creio que não me conheceu, tampouco tomou existência. Se tomou, não importa; meu pai é o Costa! ... às vezes, falo uma coisa neste momento e daqui a pouco não consigo recordar mais. Escusa-me... me desviei do percurso do meu propósito, perdi a linha do raciocínio destinada a este capítulo.
É... quando puder, retorno.

Nenhum comentário:

Postar um comentário