Mas,
antes de relatar as advertências e o consequente término do enlace amoroso, é
indispensável esclarecer um dado que não te forneci sobre meu pai, no entanto
iniciei-o sem êxito no sétimo capítulo.
Corroborando
toda uma heterogeneidade, o marroquino Juan de Córdoba era cigano – entretanto
um atento leitor já deveria ter percebido. Sim, era um gitano islamita, por
isso toda aquela história sobre sua origem. Somente um antropófago cosmopolita
poderia reunir diversas culturas, aproveitando-as concomitantemente.
Segundo
a governanta africana, ele não usava brincos ou tapava um olho, quem usa esses
apetrechos são piratas. Da minha parte, nunca ouvi dizer que um sarraceno
usasse afins. Dizia ainda que somente conhecia o mistério das cartas por ser
filho único; isso se realmente conhecia. Sua mãe não tivera uma criança mulher
para ensiná-la o jogo da adivinhação, caso contrário, a ele não seria ensinado,
pois esse jogo é destinado às mulheres.
Ele
era um mouro que se trajava todo de branco. Usava um pano branco comprido na
cabeça com corda presa ao redor dela. As suas vestes, quando andava, flutuavam,
iam embora pelo ar. Eram enormes! Tinha um outro traje comprido que prendia na
canela, vindo uma saia – assim chamo – abaixo dos joelhos. Quando me apareceu
em sonho estava justamente com uma calça até a canela, com um pano ao joelho,
uma blusa larga nos braços, um lenço enfiado na cabeça preso por duas cordas,
um medalhão similar a uma estrela de cinco pontas no peito e um lobo branco ao
seu lado.
Em
sua época, estava havendo um conflito entre os que chamam de ciganos, na França
e na Espanha. Tentavam expulsá-los à força. Havia uma luta muito grande por
libertação, por um mundo melhor. Ele não pertencia àqueles ciganos que ali
estavam, por isso é que não sei dizer se voltou a Marrocos depois do fim do
relacionamento com Judite.
Estava
na Espanha por causa de parte de seu povo. Não havia nascido naquela terra.
Saiu de onde estava, Marrocos, para assistir à perseguição imposta ao povo dele
na Europa, à sua dissolução: quem permaneceria ou partiria. Ali muita mistura
houve. No entanto, quando Juan esteve lá, não havia mais esse grande desespero,
houve um abrandamento. Os interesses mudaram. A dissidência que houvera era por
causa das perseguições a quem ia para um lado ou para o outro. Leitor,
ajuda-me! Procura saber o tempo que Juan de Córdoba viveu. Deve ter algum
relato ou lenda sobre esse homem. Se procurardes no meio dos ciganos,
encontrá-lo-ás. Essas pessoas doidas que ficam chamando, arbitrariamente, por
cigano, de tua época, que o respeitam muito, indaga-os. De repente, quem sabe,
dirão que estou errado, azeite! Importante é a realidade e não a verdade.
Esse
místico abaporu, meu pai, foi o cigano árabe Juan de Córdoba. O povo
espanhol havia nomeado-o assim quando o recepcionou. Provavelmente, seu nome
verdadeiro em árabe deveria ser de pronúncia esdrúxula ou de difícil articulação
oral aos gaditanos.
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