Em
1883, no dia doze de junho, meu corpo, esse jaz no chão, cinco anos antes da
lei áurea. Eu não tive a felicidade de presenciar a libertação dos negros. Não
tive esse prazer; faltaram-me cabeça e poucos anos para isso. Mas na minha
ocasião movimentos abolicionistas já existiam e quem era simpatizante praticava
às ocultas. Tudo às escondidas, porque, desde que D. Pedro I, esse imoral e
indecente, que no dia sete de setembro de mil novecentos e vinte e dois estava
bêbado (para mim não é mais problema asseverar isto, somente não sei se
acreditarás), assumiu o poder, vivemos uma grandiosa mentira. Esse homem nunca
separou nada de ninguém. Era um alcoólatra, um covarde. A história do Brasil
não é contada verdadeiramente. É difícil aceitares isso? Ele nada fez. Quem
planejou tudo foi a mulher dele. Essa história de que se levantou e gritou
ficou sendo a conveniente, pois era isso que a sociedade (compreendas que essa
palavra aqui contraria o seu sentido totalizante) desejava que acontecesse.
Pouco tempo depois, não resistiu a toda pressão que o povo punha nele, desde
antes. Quando o chamaram para retornar a Portugal, comprometeu-se, diante do
povo, que permaneceria no país, mas só sabia participar de badernas e de
doações de grandes lotes de terra, para mulheres, mulheres e mais mulheres com
quem tinha filhos, com quem se deitava, com quem trocava doenças.
Provavelmente, morreu cheio de sífilis!
Por
fim, foi obrigado a partir, a ir embora e deixar aqui o seu filho. Haveria de
deixar um regente tomando conta. Esse homem sim, D. Pedro II mereceu tudo o que
lhe foi direito; justo, honesto, amante das artes e das letras e meu amigo.
Procurou elevar tudo isso a uma cultura muito grande. Mesmo assim, quando se
pensava em libertar os escravos, já havia facções que ansiavam derrubá-lo. Eram
aqueles conservadores que faziam parte do militarismo, que comandavam as forças
armadas que havia naquela época. Embora Caxias tenha sido assistido para a manutenção
da integridade do império, ele era um racista e destruidor de quilombos. E
também não podemos esquecer dos republicanos.
No
tempo do Império, no tempo de Pedro II, muitas vezes fui ao do Rio de Janeiro.
Por inúmeras ocasiões fui à terra de Pedro, Petrópolis – capital do Império -,
visitá-lo no seu Palácio de Verão. Nessa época atual tua, não acredito que se
encontre algo com o nome de João Paulo da Costa, pois na minha época de vida,
quando se morria em desgraça, o nome de qualquer um era varrido de tudo e, como
não tive herdeiros, meus bens todos foram tomados, tudo, pois, se alguma mulher
pariu algum filho meu, eu não tomei conhecimento.
Em
vida, certamente, não poderia escrever tais asseverações, pois baseada em que
história é essa contada? Minha vida. Como se fala da ficção de um homem que
mentiu, não separou nada de ninguém? Essa ficção tem endereço exato.
Presta
atenção numa coisa muito séria: muitas pessoas naquela época escreveram e seus
livros foram queimados, suas casas destruídas, suas famílias e corpos foram
salgados. Não sei como são os atos de repreensão hoje. Contudo, não possuo mais
corpo para ser torturado! Apenas conto parte de uma história, da época em que
vivi. Acredito que, se desejas alumiar meus caminhos, não precisarias saber de tantos
acontecimentos, não precisaria falar de uma independência de mentira, no
entanto, que maravilhoso! Quem sabe assim, depois desse relato, eu vá direto
para o céu!
Talvez
algum dia alguém que estude a história, que tenha acesso a todo um acervo de
documentos, que não tenham sido danificados ou alterados ainda, como já disse
anteriormente, consiga fazer esse povo ver que, se houve realmente um
afastamento da corte real de Portugal que aqui estava, foi graças à mulher de
Pedro I e não a ele. Era um beberrão, um fanfarrão, imoral, indecente. Sua
corte era podre e imunda! Eu não conheci o pai de D. Pedro I, mas se sabe que,
segundo a falácia na corte, era um porco.
Essas
coisas, que hoje se ouve falar dos salões, nobres com dentes bonitos, por
exemplo, são mentiras. Onde viste isto? A maioria tinha seus dentes podres,
limpavam a boca no gibão, tomavam banho de ceroulas, quando tomavam. Em
contrapartida, os pederastas e as mulheres de baixa meretriz, os
marginalizados, eram muito mais limpos. Eles não se deitavam com os nobres, sem
que esses não tomassem banho. Eles eram lavados. As glandes, o pênis tinha de
ser limpo porque fedia a podre. Isso tudo é a história que desejas saber? Tens
certeza?
O
rumo da história é como um rumo de rio: se mudar, seca. O passado não pode ser
destruído. O presente vive no passado almejando o futuro. Águas passadas não
movem o mesmo moinho. É só represá-las que moverão outro. Tiradentes, o mártir
com cara de Jesus? Esse grande maçom não morreu enforcado. Morreu foi um pobre
mendigo, pois a Maçonaria não deixaria. A história de Maria Quitéria acabou
quando pegou seu marido com as nádegas voltadas para outro homem. Francisco de
Assis, que dançou nu antes de se tornar um homem santo, morreu de sífilis. As
pústulas não eram as marcas de Cristo, pois a doença já estava escondida nele.
E assim vai.